A prisão de Marcelo Gomes da Silva, um jovem brasileiro de 18 anos, pelo U.S. Immigration and Customs Enforcement (ICE), no último sábado (31), em Milford, Massachusetts, provocou uma onda de protestos entre estudantes, líderes locais e políticos do estado. O caso ganhou forte repercussão nas redes sociais, especialmente após a governadora Maura Healey declarar estar “indignada e chocada” com a detenção e exigir explicações públicas do governo federal.
Marcelo, que mora nos Estados Unidos desde os 5 anos de idade, estava a caminho de um treino de vôlei com amigos quando foi abordado por agentes do ICE. Ele dirigia o carro do pai com outros três colegas a bordo. De acordo com testemunhas, a abordagem aconteceu de forma súbita e sem justificativa aparente. Marcelo foi levado pelos agentes e está detido em uma unidade federal. Até o momento, o motivo da detenção não foi formalmente divulgado.
Jovem envolvido na comunidade escolar
Conhecido por ser um aluno participativo, Marcelo fazia parte da banda da Milford High School e estava prestes a se formar. Amigos e colegas se mobilizaram rapidamente, organizando protestos em frente à escola e à prefeitura, com cartazes que denunciavam a prisão como “arbitrária e discriminatória”.
“Não o vi fazer nada de errado. Só estávamos indo para o treino. Sempre ouvi dizer que o ICE agia contra pessoas que cometeram crimes graves, mas agora parece que basta ser imigrante”, afirmou um dos amigos que estava no carro no momento da abordagem.
Reações políticas e comunitárias
A governadora Maura Healey, uma das principais vozes democratas do estado, publicou um vídeo nas redes sociais pedindo esclarecimentos imediatos:
“Solicito publicamente que o ICE forneça, imediatamente, respostas sobre as razões para este jovem ter sido preso. O que vimos aqui é uma afronta à comunidade e ao bom senso. O governo Donald Trump está promovendo uma política de medo, que aterroriza nossas famílias e enfraquece nossa coesão social.”
O caso também mobilizou o deputado federal democrata Jake Auchincloss, que esteve presente nos protestos em Milford. Ele criticou duramente o governo republicano:
“Este governo tem suas prioridades de segurança pública invertidas. Perdoa agressores do ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, mas detém jogadores de vôlei do ensino médio. Dificulta o controle de armas e ao mesmo tempo incentiva o uso de silenciadores. Isso não é segurança. Isso é perseguição.”
Organizações de apoio a imigrantes, como a Brazilian Workers Center e a Massachusetts Immigrant and Refugee Advocacy Coalition (MIRA), também condenaram a ação e prometeram apoio jurídico à família de Marcelo.
Situação migratória indefinida
Marcelo, embora more legalmente com a família há mais de uma década, está entre os milhares de jovens que cresceram nos EUA sem uma definição clara de status migratório. Ele se enquadra no perfil de muitos “Dreamers” — jovens que chegaram ainda na infância e construíram suas vidas em solo americano, mas que vivem à sombra da deportação, especialmente após o endurecimento das políticas migratórias sob o atual governo.
Cresce a pressão por respostas
O ICE ainda não divulgou uma nota oficial sobre a prisão. Fontes próximas ao caso indicam que a detenção pode estar ligada à ausência de regularização do status migratório de Marcelo após ele atingir a maioridade, mas advogados apontam que a prisão de estudantes sem antecedentes e em contexto não criminoso fere princípios básicos de proporcionalidade e humanização do sistema migratório.
Enquanto isso, os protestos continuam ganhando força. Estudantes anunciaram uma nova manifestação para o fim de semana e lançaram a campanha #FreeMarcelo, que já soma mais de 500 mil interações nas redes sociais.
Para a comunidade brasileira de Milford, o caso é um lembrete amargo das incertezas que pairam sobre milhares de famílias imigrantes. Para Marcelo, seus amigos e familiares, é uma luta não apenas pela liberdade, mas pelo direito de pertencer ao país que chama de lar desde criança.